Membro da sexta geração da família Hermès, a francesa Pascale Mussard teve há quatro anos um momento “eureca” durante uma conferência. “No futuro, o maior problema talvez não seja somente a rarefação dos objetos, mas também a impossibilidade de jogar fora todo e qualquer material”, alertou uma palestrante. A frase ressoou profundamente em Pascale, que, apesar de não saber tudo sobre sustentabilidade, se sente à vontade quando o assunto é reciclagem. Afinal, ela nasceu no contexto do pós-guerra, em que, mesmo numa família com boas condições como a dela, não havia pecado mais grave do que o desperdício. “Até envelope era reutilizado do avesso”, recorda. Sem falar nas brincadeiras lúdicas de sua avó Aline, instigadora de concursos de fantasia entre seus netos, nos quais a única regra era usar materiais e objetos existentes na casa.
Pascale
Mussard
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“Por que não trazer esse gosto por transformação que está no sangue dos Hermès para os negócios?”, pensou Pascale. Um ano depois, nascia a Petit h, iniciativa da maisonfrancesa que dá uma segunda vida a todos os refugos de couro, porcelana, vidro e seda estimados defeituosos para os rígidos critérios da Hermès. O resultado são criações poéticas e originais, entre objetos de arte e decoração, como um simpático burrinho de retalhos de couro, em tamanho real, que recebe os visitantes no quartel-general e ateliê da Petit h em Pantin, nos arredores de Paris. “Esse projeto é uma reflexão sobre a perfeição e a imperfeição da matéria-prima. O que é considerado incorreto para a Hermès, para nós, é o que faz um objeto único”, explica. Um exemplo é o couro de crocodilo, assimétrico, cuja “falha” não é disfarçada nas peças, mas, sim, ressaltada.
Antes de cada exposição e venda dos objetos – que acontecem duas vezes por ano em algumas lojas da Hermès –, a direção criativa da Petit h faz uma ronda no ateliê de Pascale para ver o que foi produzido. “Eu me sinto muito orgulhosa disso. Eles vêm aqui roubar nossas ideias”, brinca ela, toda orgulhosa. A start-up instalada há três anos numa salinha virou um verdadeiro laboratório de ideias: no atual estúdio de mais de 100 m², colaboradores de diversas áreas, como o estilista brasileiro Gustavo Lins e o ourives Gilles Jonemann, dividem o mesmo espaço com algumas “mãos de ouro” vindas de todos os métiers da Hermès para acrescentar sua expertise.
Durante meu encontro com Pascale, apoiei um copo-d’água em cima de um pedaço retangular de couro que estava sobre a mesa de reuniões. Pedi desculpas imediatamente, à toa. “Não tem problema! Faz meses que o deixei aí exatamente para ver se resiste às inevitáveis intervenções do cotidiano. Quem sabe ele não vira parte de um set de jogos americanos?” As peças da Petit h estão à venda, neste ano, nas lojas Hermès de Cingapura e Londres.
Luminárias
de Gilles Jonemann e Jörg Gessner
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Porta-livros
de Marina Chastenet
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Urso
de origami, revestido com couros reaproveitados da Hermès
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Rede
criada por Stefania di Petrillo & Godefroy de Virieu
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Fonte: Casa Vogue
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